O artigo busca discutir algumas proposições no sentido de avaliar a contribuição das categorias da Teoria Marxista da Dependência (TMD) para uma história econômica da industrialização latino-americana, a partir das questões despertadas pela problemática da dependência, com ênfase nos métodos e fontes. A TMD teve origem especialmente através da reflexão de quatro teóricos que integraram o grupo do CESO-Chile e que, posteriormente, desenvolveram sua trajetória no México, sobretudo na UNAM: Andre Gunder Frank, Ruy Mauro Marini, Theotonio dos Santos e Vania Bambirra. Segundo Jaime Osorio, a Frank se deve o aporte do axioma “desenvolvimento do subdesenvolvimento”; Marini buscou desvelar algumas das leis próprias ao capitalismo dependente (como a superexploração do trabalho, o intercâmbio desigual-transferência de valor e o divórcio entre a estrutura produtiva e as necessidades de consumo das massas); Santos pensou nas diferentes dimensões da dependência (comercial, financeira, tecnológica), à luz da evolução histórica; e Bambirra propôs tipologias para o estudo das distintas realidades do capitalismo dependente latino-americano. Dentro do impulso de renovação da história econômica da América Latina, nos termos colocados por Luis Bértola (¿Hacia donde va la historiografía económica latinoamericana?), uma tarefa que cabe aos historiadores é pensarmos a contribuição que as formulações destes e de outros teóricos da dependência - que a partir da Economia Política buscaram sistematizar regularidades do capitalismo latino-americano - podem trazer a novos estudos empíricos, com recurso a suas categorias de análise. Nesse sentido, o texto detém-se no exame de algumas destas categorias, refletindo sobre sua validade e sobre indicadores econômicos que proporcionem critérios de comparabilidade, para o estudo do processo de industrialização dependente e seus (des)caminhos. A título de exemplo, como inferir empiricamente a superexploração do trabalho, a transferência de valor, a cisão entre esfera alta e esfera baixa do consumo; quais podem ser indicadores de dependência tecnológica, etc. Esse esforço será feito principalmente à luz das análises de Ruy Mauro Marini para os casos brasileiro e chileno, que oferecem métodos de análise e indicadores empíricos que podem também servir de parâmetro para o estudo de outras formações histórico-concretas da América Latina, valendo-se de dados disponíveis nos sistemas de contas nacionais dos diferentes países e em outras fontes, dentro do esforço de aproximação entre a TMD e a histórica econômica de nosso continente.
História econômica da dependência latino-americana: o aporte da Teoria Marxista da Dependência
Mathias Seibel Luce (Universidade Federal de Uberlândia)