Lutas econômicas e anarquismo: estratégias e concepções anarquistas no Brasil

Tiago Bernardon de Oliveira (Universidade Estadual da Paraíba, Brasil)

Lutas econômicas e anarquismo: estratégias e concepções anarquistas no Brasil das duas primeiras décadas do século XX.

A relativa notoriedade que o anarquismo conseguiu atingir no Brasil do início do século XX deveu-se, fundamentalmente, aos vínculos que seus militantes conseguiram exercer junto ao movimento operário das regiões centro-sul do país. A opção pela tática da defesa da neutralidade política e religiosa das entidades sindicais, propalada pelo modelo do sindicalismo revolucionário forjado, inicialmente, pela Confederação Geral do Trabalho francesa, conferiu às lutas eminentemente econômicas a função estratégica de exercício pedagógico da classe trabalhadora com vistas à constituição de práticas efetivamente revolucionárias. Embora no Brasil, ao contrário da Argentina, por exemplo, o movimento anarquista não tenha sofrido, até 1921, cisões internas significativas em torno das apostas do sindicalismo como método de ação condizente com os fins almejados, eram costumeiras as críticas publicizadas sobre os limites da ação sindical. Isso porque, dentre outros fatores, compreendiam que a luta no terreno econômico levava apenas a conquistas residuais, satisfazendo reivindicações imediatistas, fazendo emergir uma aristocracia operária e ocultando a dimensão mais geral de uma luta mais ampla pela transformação histórica. Seria preciso promover outros meios, segundo os quais os trabalhadores pudessem melhor desenvolver práticas e ideias que fossem disseminadas para a destruição da ordem vigente e constituição de uma sociedade ácrata. Além disso, diziam, o futuro não deveria pertencer a esta ou àquela classe, mas a toda a humanidade. E a luta pela instauração da anarquia, portanto, não deveria se restringir apenas ao combate contra o capitalismo.

De todo o modo, apesar da multiplicidade de concepções e da falta de um teórico com uma produção intelectual mais sistematizada, está presente entre os anarquistas a ideia de que caberia aos trabalhadores a primazia da transformação social. Porém, faziam questão de ressaltar, em nome da pureza de suas posições, não do modo como concebiam os marxistas, em projetar um período histórico chamado de ditadura do proletariado.

A partir da análise de textos difundidos através da imprensa anarquista do Brasil, a presente comunicação pretende analisar as concepções do movimento anarquista brasileiro sobre a função desempenhada pelas estruturas e conjunturas econômicas no que toca ao estímulo ou arrefecimento de movimentos que tivessem alguma orientação libertária, além dos debates acerca da maneira como elas influíam nas ações que desempenhavam junto ao movimento operário.