Leonardo Soares dos Santos (COC/ESR/UFF, Brasil)
A atuação de militantes comunistas nos conflitos de terra na zona rural da cidade do Rio de Janeiro: 1945-1964.
Quando o assunto é o papel da militância política, e no caso em tela, aquele que se dava no Sertão Carioca, temos de se perguntar primeiramente: que militantes eram esses? Não é muito difícil perceber que eles eram em grande parte quadros do Partido Comunista do Brasil (PCB). Mas então uma outra pergunta se faz necessária: qual a influência que esses quadros tiveram nos conflitos de terra na região e, de forma mais específica, no processo de mobilização e organização dos pequenos lavradores cariocas. Sua resposta, e é essa a única certeza que podemos ter, não é nada simples. Há os que defendem que o alcance da atuação do PCB foi muito grande entre os camponeses, em que pese os vários “erros” e “fracassos”. Esse é o tipo de fala muito comum entre ex-militantes. Do outro lado, há aqueles que proclamam ter sido ínfima a influência dos pecebistas, fiando-se no fato de que era “um partido pequeno, urbano, clandestino e perseguido”. A meu ver, em primeiro lugar, os dois lados pecam pela falta de um certo distanciamento exigido pelo trabalho de crítica histórica; em seu lugar, tem-se um discurso visivelmente preocupado em marcar posição em face de um “acerto de contas” com o passado do antigo Partidão. Em segundo, as duas versões, mas principalmente a segunda, passa ao largo de questões importantes para o entendimento dos problemas e desafios reais que eram colocados pela própria relação entre PCB e segmentos sociais do campo. Ao invés de guiarmos nossa análise sobre a atuação do PCB por meio de binômios do tipo eficácia/ineficácia, revolucionária/ reformista ou simplesmente detectar se as orientações do partido estavam de acordo com os “verdadeiros” anseios dos camponeses, julgamos importante analisar, antes de tudo, como se desenvolveu essa relação. Em vista disso, cabe então perguntar às nossas fontes: em que condições se deram os primeiros contatos entre militantes e lavradores? Quem eram esses militantes? Qual sua origem? Que tipo de ocupação profissional tinha antes de ir para o campo? Qual a sua posição na máquina partidária? Qual sua relação com correntes internas do partido e a qual pertencia?