Dr. Edgar Ávila Gandra (Universidade Federal de Pelotas, Brasil)
Dra. Márcia Janete
Essa comunicação quer refletir sobre aspectos das experiências de dois grupos de trabalhadores que tem sua prática ligada a sazonalidade e incerteza de rendimentos. Soma-se a isso a interpretação acerca de suas ações frente a adversidades do mundo do trabalho. O desafio que nos propomos é o estudo de duas categorias inseridas em diferentes contextos, que, no entanto, possuem elos de ligação que permitem estudos relacionais significativos no que diz respeito a suas práticas de resistência. Para esse fim elencamos como objeto de estudo dois grupos de trabalhadores. Um destes grupos é o dos turmeiros que se envolveram na construção da linha sul da Estrada de Ferro São Paulo – Rio Grande (EFSPRG) entre os anos de 1908 e 1910. Os turmeiros eram trabalhadores braçais que desenvolviam as tarefas menos especializadas de construção da dita ferrovia. Foram milhares de homens que, em sua experiência cotidiana, conviveram com episódios de repressão por parte da empresa responsável pela concessão daquele caminho de ferro, a Brazil Railway Company (BRC). Reagindo a este contexto adverso, estes operários desenvolveram práticas de resistência tais como greves, reclamações a autoridades, abandono do trabalho, entre outras. As evidências empíricas utilizadas para o estudo deste caso foram variadas. Dentre elas citamos jornais, relatórios governamentais, memórias de engenheiros e de descendentes de imigrantes. O segundo grupo a ser analisado é o dos trabalhadores portuários que atuavam basicamente no transporte e na manutenção de cargas no cais do Porto de Rio Grande-RS, através da atividade braçal denominada capatazia. Esse segmento de trabalhadores realizava uma atividade similar ao desenvolvido pelos estivadores a bordo dos navios. Atuavam também como serventes no refeitório e nos armazéns, desempenhando uma infinidade de tarefas, desde a limpeza até os serviços de escritório. Entre os anos de 1959 e 1969, o Porto de Rio Grande empregava para este tipo de serviço um número que variava entre oitocentos a mil e duzentos trabalhadores, com uma alta mobilidade decorrente da natureza da atividade. Destacamos o fato de ser uma categoria ligada a um setor estratégico e dinâmico da estrutura produtiva. Como evidência empírica dessa pesquisa foi utilizada uma variada documentação abarcando fontes orais, atas e documentos da administração do Departamento Estadual de Portos Rio e Canais (DEPREC). Utilizou-se ainda a metodologia da História Oral, relacionando-a conceitualmente com as perspectivas recentes da História Social do Trabalho. A partir dessas duas análises buscamos interpretar a insegurança estrutural que motivou essas categorias a se organizarem e desenvolverem ações de resistência frente às adversidades enfrentadas na luta por direitos.