Carlos José Espíndola (UFSC)
Nos anos de 1970 e 1980, emergiu na literatura acadêmica uma série de estudos que tinham como objetivo principal demonstrar que o modelo de desenvolvimento implantado na agricultura, das diferentes formações sócio-espaciais da América Latina, foi baseado na expansão agroindustrial. A conclusão geral desses estudos é que a expansão e a consolidação agroindustrial ocorreram pelo predomínio de empresas transnacionais, sobretudo de origem norte-americana e pela subordinação da estrutura produtiva do setor agropecuário à lógica de transformação industrial. Diante desse processo, originaram-se monoculturas voltadas para o mercado externo e a criação de um padrão de consumo assentado no binômio carne-grãos. Já recentemente, os trabalhos sobre o desenvolvimento agrário na América Latina relacionam a política gerada em torno do consenso de Washington com a exclusão dos “camponeses” e da “agricultura familiar” das etapas da produção primária. Isto gerou, por um lado, o empobrecimento do “campesinato” e/ou da “agricultura familiar” obrigando-os à busca de formas alternativas que vão desde agroecologia à multifuncionalidade, do turismo rural à educação do campo e, por outro lado, a existência de uma falsa polaridade entre o agronegócio e a agricultura “camponesa” e/ou “familiar. Em termos gerais, esses trabalhos não perceberam as profundas transformações produtivas na estrutura agrária da América Latina que resultou na monetarização das relações sociais, via a constituição de uma geração de produtores (pequenos, médios e grandes) que, motivados pelo lucro, se tornaram uma nova burguesia agrária. A expansão da modernização agropecuária dos anos de 1960 e 1970, como fruto da Segunda Revolução Industrial, desembocou na constituição de diferentes cadeias produtivas mercantis que apresentam características próprias em termos de produto, mercado, tecnologia, localização geográfica, organização da produção, etc. É, pois, nesse sentido que este texto visa compreender a emersão da cadeia produtiva de carne de frango na estrutura produtiva regional/nacional/mundial. Trata-se de desvendar as profundas transformações no âmbito da sua estrutura produtiva (a montante e a jusante da cadeia), capazes de reduzir os preços da proteína animal e proporcionar uma maior diversidade de produtos ofertados ao mercado, pois os produtores como Brasil, México, Argentina, Colômbia, Peru e Venezuela, por exemplo, produziram em 2005 cerca de 12,5 milhões de toneladas de carne de frango. No Brasil, a produção de carne de frango cresceu entre 1980 e 2007, 7.744% contra 4.288% da Argentina; 713%, da Colômbia e 318%, da Venezuela.