Luiz Fernando Mazzini Fontoura (UFRGS)
No espaço agrário, se realiza uma geografia comparada da questão norte-sul no Rio Grande do Sul a partir das formas de penetração das relações capitalistas em uma e outra região, onde a silvicultura é uma parte das transformações. No Planalto, esta penetração começou com o processo de mercantilização da terra durante a colonização. Os europeus, "compravam" a terra, e eram obrigados a entrar no processo de produção e acumulação de valor. A expansão da lavoura de soja foi a integração da região (sua especialização) na divisão mundial do trabalho. Já na Campanha, o processo ocorreu de forma diferente. A terra não foi apropriada pela sua mercantilização e os antigos donatários permaneceram no poder até os anos 1970 e, ainda assim, mantiveram-se em atividade associando-se às lavouras capitalistas (rizicultura). Nas áreas de limitação às relações capitalistas se construiu a ideia de Metade Sul pobre, de onde se incide em dois espetaculares erros: (i) há uma grande parte da Metade Sul onde se produz arroz e gado bovino com a melhor tecnologia disponível no mundo e onde as relações capitalistas se desenvolvem em estágio avançado; (ii) onde predomina a pobreza e os baixo IDH (indicador de características urbanas), percebe-se a falta das atividades acima descritas, ou seja, das relações capitalistas. Nestas áreas falta a racionalidade capitalista e seus atores hegemônicos ainda não foram substituídos por limitação tecnológica. Recentemente, estas terras de baixo preço, utilizadas quase que exclusivamente para a pecuária extensiva, começaram a ser disputadas por empresas de fabricação de celulose, lavoureiros de soja e pela produção de biocombustíveis, entre outras atividades.