Ana Clara Fernandes (UFRGS) e Paulo Roberto Rodrigues Soares (UFRGS)
Observados os relativos tempos, espaços e processos de diferentes metrópoles e cidades que se estruturaram mediante uma base econômica urbano-industrial durante o decorrer do século XX, constatamos na atualidade um movimento de desconcentração industrial, a reestruturação de suas economias e a redefinição de usos e funções de seus territórios industriais. A possibilidade de incluir ou não esses territórios nas dinâmicas de acumulação atuais do capital faz parte de um leque de possibilidades, investimentos e políticas “voltadas para” e “geradas para” a dimensão interna do espaço urbano. Sua incorporação no contexto urbano é feita de diferentes formas: alguns, readequados, permanecem como territórios industriais; outros são ajustados para atender a diferentes demandas do setor terciário; e, um terceiro grupo permanece fisicamente como testemunho de seu antigo uso, na forma de edificações industriais “abandonadas”.
A partir do exposto pretendemos, através do resgate histórico dos processos da anterior industrialização e relativa desindustrialização nas metrópoles Porto Alegre e Montevidéu, traçar um paralelo entre os usos e funções de seus territórios industriais. Mais especificamente, analisar formas de “reapropriação” desses territórios no espaço urbano através de dois exemplos: a Companhia Fiação e Tecidos Porto Alegrense-FIATECI, em Porto Alegre, e a indústria têxtil La Aurora, em Montevidéu.
As duas indústrias têxteis que nos propomos a utilizar como exemplos neste trabalho iniciaram suas atividades no início do século XX. A têxtil La Aurora faliu e até início dos anos 2000 funcionou enquanto cooperativa de trabalhadores. A cooperativa não conseguiu se sustentar e hoje seus edifícios são alugados como depósitos. A indústria FIATECI, em Porto Alegre, se transferiu para novas instalações em 2010 e as antigas edificações foram absorvidas pelo capital imobiliário interessado em investir na capital.
Os dois exemplos demonstram diferentes usos dos territórios herdados da cidade industrial nas centralidades metropolitanas. Por um lado, Porto Alegre está no decorrer de um processo de preparação para receber um evento esportivo mundial e o capital imobiliário tem investido de forma intensa em seu território. Empresas transnacionais há mais de uma década são atraídas para seu entorno, Porto alegre se configura como um espaço atrativo para o capital nacional/transnacional que por sua vez exerce influência na configuração territorial da Metade Sul do Rio Grande do Sul – acesso ao Porto De Rio Grande, por exemplo. Montevidéu, desde a crise iniciada nos anos 1960 no Uruguai e que persistiu com a ditadura militar, não se configura como um território atrativo a novos investimentos se comparada a Porto Alegre, apesar de ser uma cidade portuária estrategicamente localizada.