ESPÍRITO SANTO, BRASIL: CAFÉ, TRANSPORTES E EXTRATERRITORIALIDAD (1889-1930)

Ponencia Naques Faleiros

Rogério Naques Faleiros (Departamento de Economia – UFES)

Este artigo objetiva uma melhor qualificação da noção de “complexo econômico cafeeiro”, desenvolvido no âmbito da Escola de Campinas, notadamente por Wilson Cano, vislumbrando o entendimento sobre a especificidade da formação econômica do Espírito Santo. Argumenta-se que ocorreu, no passado, uma especialização relativa ao nível da produção, sendo que as atividades mais rentáveis ligadas ao crédito, classificação dos grãos, exportação e comercialização foram concentradas pelas elites mercantis do Rio de Janeiro e da Zona da Mata mineira. Na seqüência apresentam-se algumas tentativas da elite capixaba visando a “territorialização” desta formação econômica, ou seja, a submissão do movimento da acumulação de capitais, no âmbito da economia cafeeira, à elite local. A noção de territorialidade aqui apresentada revela o intento da elite capixaba em dominar as diferentes regiões do estado a partir de: a) tentativa de desbancar a elite fluminense; b) controlar o avanço da fronteira agrícola sobre os desertos demográficos ao norte; c) centralizar a distribuição de bens, serviços e créditos no estado a partir de Vitória e d) estabelecer conexão direta entre a capital capixaba e o comércio internacional, viabilizando a construção de ferrovias e de um dos principais portos cafeeiros do mundo. A noção de territorialidade envolve também o estabelecimento de nexos políticos, de monopólio da violência e de tributação em regiões até então “desterritorializadas”, ou seja, não tocadas pela acumulação capitalista. Nestes termos, a trajetória do desenvolvimento da cafeicultura no estado ocorre simultaneamente a uma estratégia de constituição de uma formação econômica que dê vazão aos interesses de uma elite marginal no cenário nacional, que opera uma instrumentalização do estado com vista à realização de seus desígnios.

Palavras-Chave: Complexo Cafeeiro, Espírito Santo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Extraterritorialidade.