Prof. Dr. Ivanil Nunes (Universidade Nove de Julho, São Paulo)
A integração econômica que está em curso na América do Sul, pelo menos desde o século XIX, trás em si a marca da constante adaptação aos diferentes estágios do processo de acumulação. Esta integração deve ser entendida como um processo contínuo de expansão e unificação de mercados, seja no interior de uma nação, seja em âmbito regional ou mundial. Como a infraestrutura está vinculada à reprodução ampliada do capital, a alteração na produção implica em alteração na forma de circulação de mercadorias entre os dois países. O objetivo neste trabalho é analisar o uso da infraestrutura de transportes [marítimo, ferroviário e rodoviário] nos fluxos de comércio entre Argentina-Brasil, após a Segunda Guerra Mundial; mais particularmente após a criação da Associação Latino-Americana de Livre Comércio, em 1960. Afinal, por que, embora venha ocorrendo há décadas aumento nos fluxos de mercadorias entre Brasil e Argentina, a participação do modal ferroviário continue relativamente decrescente nos fluxos de comércio entre Argentina e Brasil? A resposta a esta questão-chave parece estar no fato de que o processo de industrialização argentino e brasileiro, que ganhou impulso a partir de meados do século XX, contribuiu para a exclusão das empresas ferroviárias que já pouco atuvam nos fluxos mercantis entre esses dois países. Momento em que outras classes sociais, de perfil urbano e industrial, passaram a interferir nas ações estatais, em detrimento da hegemonia dos setores agrários e exportadores. Esses novos grupos econômicos necessitavam contemplar, a partir de então, suas demandas por circulação também no âmbito do mercado interno e intra-regional, sendo esta não mais uma circulação voltada basicamente em direção (ou proveniente do) porto, mas direcionada a diversos pontos de produção, distribuição e consumo (pontos estes espalhados por vasto espaço econômico). Pelo fato de estar diretamente inserido no processo de industrialização, o modal rodoviário firmou-se como pré-condição para a própria industrialização associada a capitais externos e passou a funcionar como instrumento de atendimento da maior demanda por circulação de mercadorias, cujas características são mais apropriadas ao transporte rodoviário; fato que o consolida de vez como modal da integração terrestre, não apenas do espaço econômico nacional, mas também como instrumento de ligação terrestre entre os principais pólos econômicos dos países da Região, em substituição ou em concorrência direta aos poucos pontos de conexões férreas que haviam sido instituídas na Região até meados da década de 1950. Em quase todos os pontos de conexão ferroviária entre Argentina e Brasil foram construídas rodovias que passaram a potencializar a competição, e em alguns casos a substituição dos serviços ferroviários internacionais pelos rodoviários.