Entre guerras e fronteiras: comércio negreiro e escravidão no Rio Grande do Sul na época das indepen

Ponencia: Aladrén

Gabriel Aladrén (Universidade Federal Fluminense)

Abstract

A partir de 1780, a capitania do Rio Grande do Sul experimentou um significativo impulso econômico, sustentado pelo arranque inicial da produção do charque, pelo desenvolvimento da agricultura do trigo e pelo incremento da exportação de couros. Esse processo foi acompanhado por uma expansão da escravidão na capitania, que passou a importar regularmente escravos africanos e crioulos trazidos de outros portos da América portuguesa.

Nas primeiras décadas do século XIX, a escravidão tornou-se uma instituição econômica e social basilar no Rio Grande do Sul. Em um contexto marcado pelos movimentos de independência no Rio da Prata e no Brasil, ocorreu uma ampla expansão territorial luso-brasileira nas fronteiras platinas. Desde 1801 mas, especialmente, no período de 1811 a 1824, conflitos militares travados nas fronteiras do Brasil com o Rio da Prata resultaram no avanço luso-brasileiro na região. As guerras desestabilizaram a produção saladeril rio-platense e permitiram o estabelecimento de novas estâncias rio-grandenses nos territórios conquistados, que foram povoadas com milhares de cabeças de gado apropriadas durante os conflitos. Esses fatores concorreram para uma vertiginosa expansão econômica no Rio Grande do Sul, sobretudo entre 1810  1825.

Tanto o avanço territorial quanto o crescimento econômico rio-grandense no período dependeram de um fortalecimento da instituição da escravidão. Esta comunicação visa discutir as implicações trazidas pelos processos de independência ibero-americanos à escravidão e ao tráfico negreiro no Rio Grande do Sul. Pretende, em particular, examinar as relações entre a variação no volume de cativos importados e a distribuição da propriedade escrava na fronteira rio-grandense com as conjunturas de guerra e o avanço dos domínios luso-brasileiros na região platina. As fontes utilizadas são diversas: inventários post-mortem, documentos com informações sobre o volume de escravos importados pelo Rio Grande do Sul, correspondência administrativa e diplomática das autoridades portuguesas e espanholas da capitania rio-grandense e do vice-reinado do Rio da Prata, memórias e relatos.